segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Leitura em Sala de Aula


LEITURA EM SALA DE AULA

Eletícia Pereira Campos, Gléivia Marcia R. Rodrigues, Paula Francinete R. Rodrigues, Eliana Tomaz da Silva , Maria Janete Sousa Oliveira e Margarete Bezerra da Costa

Faculdade de Educação – UFBA

Leitura em sala de aula

Resumo

Como é bom vivermos com nossos alunos no mundo da fantasia, do encantamento e do faz-de-conta. A cada dia percebemos o quanto o Projeto de Leitura é importante na vida dos nossos alunos, vemos o seu despertar para a leitura e avaliamos o quanto, através das histórias, viajam, descobrem e aprendem. Muito se diz sobre o ato de ler, talvez por ser prática intimamente ligada com as questões de status social, mesmo por se tratar de escolas municipais, por exemplo. A leitura tem um lugar de destaque, no Brasil apesar dos dados estatísticos, afirmarem que somos um país de analfabetos, outros dados estatísticos afirmam que apesar da sofrível capacidade de leitura está entre os que declaram o maior gosto pela leitura. A escola muitas vezes aparece como um lugar importante para o primeiro contanto com o mundo da escrita. No entanto não comparece como espaço responsável por estratégias que facilitam a formação de leitores.

Palavras chaves: Leitura - infância - contemporaneidade

Leitura

Falar da história da leitura é falar da leitura do mundo percorrida lentamente através da evolução humana. O homem sempre fez de sua vida uma história, onde o narrar foi um dos fios condutores para a perpetuação dos nossos feitos até chegarmos ao que hoje se chama de sociedade pós-moderna.

Mesmo antes da escrita, o homem já detinha dentro de si o desejo de exteriorizar seus sentimentos, anseios, medos e feitos, neste sentido, o conceito “leitura” já pronunciava interpretações daquilo que se vivia e que se acreditava, ou seja, começamos a fazer nossas leituras, selecionando os fatos mais importantes e que para nós, co-sujeitos da história, eram realmente relevantes.

É interessante perceber que cada sujeito interpreta sua própria história segundo suas crenças, concretizadas de acordo com sua cultura construída ao longo da vida, desse modo, as leituras se diversificam ao mesmo tempo em que a evolução, por si só acontece. Construção é sinônimo de evolução; nessa linha de pensamento, a história se concretiza, possibilitando assim o desenvolvimento das relações entre o homem e o meio. Através da leitura pudemos intervir na história do outro, se apropriando de ideais alheios, fazendo nosso, o pensamento daqueles que somaram ideais político filosóficos, literário ou de qualquer outro cunho social. Como diz Caetano Veloso “Ler é lançar mundos no mundo”. O ato de ler emancipa-nos no sentido de que ao nos apropriarmos de mundos já constituídos, adquirimos habilidades reflexivas argumentativas, tomamos posse de conhecimentos que se não nos fosse dados pela linguagem decodificada, perderíamos quase que por completo a continuidade cultural, ideologia e filosófica dos nossos ancestrais. São justamente as releituras tecidas nos pareceres subjetivos da vida, as responsáveis pela dinâmica contínua da democracia do interpretar, do conhecer e se fazer conhecer e ser conhecido. Assim, o leitor mergulha no texto e se confunde com ele, em busca de seu sentido. Roland Barthes (2006) nos confirma que:

[...] o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido - nessa textura -, o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia.

Dessa forma, pelas leituras que “tecemos” ao longo de nossa história, somos capazes de eternizar percepções distintas que se renovam nesse processo de conto e reconto, dando, portanto, formas complexas e infinitas a diversas “teias” que se constroem e se reconstroem a cada dia, a cada época, independentemente do seu contexto onde são desenvolvidas. São esses “elos” que possibilitaram a continuidade da história da leitura; essa transcendente se deu principalmente pelo desejo que o homem sempre teve de decifrar e interpretar o sentido das coisas que o cercam, de perceber o mundo, interferir nele e essencialmente, se fazer presente, quer seja na visão ficcionista literária, quer seja na realidade dos fatos, onde o mesmo é autor e co-autor de suas próprias narrativas de vida.

Leitura significa ato de ler, conjunto do que se leu. O que se tem por hábito ler. Ler é uma atividade mediadora entre o conhecimento empírico adquirido e o conhecimento do mundo, entre o ser humano de experiência vital e o mundo técnico. Ler passa a ser a filtragem do conhecimento humano, desde sua acepção mais simples, até as formas complexas de entendimento. As chaves do conhecimento passam pela leitura, análise e crítica do visto e do vivido, do pesquisado e analisado, da forma do pensamento, da leitura.

Ler e decifrar são aprendizagens distintas, decifrar significa dominar um código de correspondência entre grafemas e fonemas e, para tal, são necessários alguns procedimento e um tempo, nem sempre longo. Esse saber, no entanto, jamais significará saber ler porque é restrito conceitualmente e vinculado a visão de que ler é dominar a correspondência entre grafema e fonema.

Com efeito, torna-se muito difícil saber como formar leitores se não sabemos antes que tipos de leitores queremos formar e com que finalidades. Nem sempre é fácil compreender a necessidade dessa reflexão prévia. Leitura é um ato que de tal modo faz parte de nosso dia-a-dia que acabamos acreditando ser algo natural, sempre igual e que não necessitaria de qualquer problematização ou reflexão.

A criança e a leitura

Proporcionar a uma criança que ela crie o hábito da leitura é uma tarefa que deve envolver também o hábito daqueles que com ela convive. O universo infantil é cheio de faz-de-conta e a criança sempre leva para o imaginário seu mundo real. Daí a importância de que desde pequenas sejam estimuladas a amarem os livros como forma de incentivar seu potencial criativo.

Nesse processo é de suma importância que os primeiros livros sejam aqueles mais resistentes, para que a criança possa explorá-los de todas as formas que tiver interesse. Vemos pais chamando a atenção dos pequenos para que não faça mal ao uso dos livros, como riscar, amassar ou rasgar. Mas como a criança irá gostar de um material e se vincular a ele se não puder mantê-lo próximo ou utilizá-lo naquilo que gera prazer, com coisas que já consegue fazer?

Para que a criança sinta-se envolvida pelos livros é importante que possa manifestar suas vontades diante dos mesmos, podendo escrever em suas páginas a história da forma como ela mesma imagina, com rabiscos ou desenhos, que mesmo não tendo significado para o adulto o tem para a criança. Aos poucos o pequeno vai internalizando os conceitos da história além de abrir-lhe a possibilidade de recontá-la do seu jeitinho, de acordo com a sua idade e capacidade, levando-a ao enriquecimento da imaginação, da criatividade e da linguagem.

Ensinar a ler para compreender não significa impor uma leitura, pois a compreensão é subjetiva e cada leitor demonstra a partir de suas próprias experiências de mundo. Isto não significa que não há nada a se ensinado, quando de trata em ensino de leitura.

Dando significações a leitura

Sabemos que em pleno século XXI, o chamado mundo contemporâneo carrega consigo marcas históricas sobre a concepção de homem natural. Mesmo com o avanço em estudos direcionados nesse sentido, a educação escolar e suas práticas pedagógicas ainda são impulsionadas por uma visão biológica do ser humano.

Os modelos capitalistas de produção, a divisão social do trabalho também influencia no processo de concepção e organização da educação, assim como também na consciência dos indivíduos. Sendo assim, a divisão de disciplinas, entre outras questões, como as próprias práticas pedagógicas, acabam sendo estruturadas pelo sistema imposto. Nessa perspectiva, o trabalho dos professores em sala de aula para a formação do leitor, acaba focalizando apenas o leitor e a leitora que decodifica as palavras.

Assim com a lapidação do capitalismo dominante, a antecipação da escolarização presente na educação infantil que deveria ser um espaço para proporcionar experiências e assim contribuir com outras formas de ler o mundo, passa a ser um espaço mecânico.de treino e de decodificação. As brincadeiras, as formas de expressões, os jogos, o contato com diversos objetos e espaços da cultura, a roda de leitura, o contato com os livros infantis, a música e a dança, o contato com outras crianças, são atividades significativas para o processo de formação leitora, pois a leitura vai muito além das letras, da decodificação, é um processo de reflexão.

As atividades diversas, significativas ao serem trabalhadas com as crianças, são fundamentais para o próprio adentrar do mundo das letras, que precisa ser levado às crianças de maneira que se conceba e elas compreendam a sua função social de comunicação e não apenas como um processo de decodificação, algo solto e sem sentido.

Então, percebemos que a leitura não é simplesmente o ato de se colocar os olhos sobre o papel, a leitura é a maneira mais especial e fantástica que o ser humano tem para entrar em contato com o mundo exterior, ampliar seus conhecimentos prévios e alhear-se o máximo de significados em todos os momentos. Portanto, para dar significados ao que se lê, é imprescindível que exista algum conhecimento anterior, informações sobre o conteúdo que será lido, pois se não estiver inserido nos horizontes de expectativas do leitor, não fará sentido algum para ele e a leitura não será prazerosa.

Devemos levar em consideração significativa o conhecimento de mundo, e as informações não-visuais que o leitor armazena a partir de associações que faz das informações e sensações que e tem contato e adquirem desde o nascimento, originadas pelas informações vividas. Esse conhecimento é fundamental e sustenta as novas informações que são trazidas pelos diferentes textos e acrescentadas a ele.

Referência

Roland Barthes, O Prazer do Texto. Lisboa, Edições 70, 1974.

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